Eduardo Duarte @ 21:56

Qua, 09/12/09

Numa das postas dedicadas aos "bitaites ambientais", um dos Escalavardos deslindou, com uma objectividade descomplexada, oportuna e transparente, as repercussões que o actual quadro de alterações climáticas poderá vir a ter no quotidiano de todos nós, caso não queiramos ser parte activa da solução, mas sim do problema.

 

Em pleno período de discussão acerca da real vontade política em resolver o problema, com sede na Cimeira de Copenhaga, e num horizonte de alterações climáticas em que, de acordo com os cenários traçados no último relatório publicado pelo IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) se prevêem aumentos das temperaturas médias globais que podem atingir os 4.0º C, é de todo pertinente equacionar quais os impactos destas previsões para o território de Monchique. Este tema é de tal forma importante e abrangente que se compreendem não só os propósitos da posta escrita pelo Luís Costa, como os de outras, oportunamente publicadas noutros blogues bem próximos, reproduzindo-lhe o conteúdo essencial.

 

Na imagem que ilustra o bitaite ambiental surge o episódio torrencial de 26 de Outubro de 1997. A sua ocorrência marcou indelevelmente a história do concelho, sendo, certamente, um dos Fenómenos Naturais Extremos de maior importância em Portugal nas últimas décadas.

 

A imagem escolhida pelo Luís não podia ter sido mais apropriada enquanto exemplo do aumento da incidência e magnitude de processos como as devastadoras Cheias Rápidas. Não obstante, também o incremento do risco de incêndio deve ser equacionado como uma das consequências de maior proeminência no território de Monchique, de acordo com a actual conjuntura de aquecimento global.

 

Sem querer entrar em detalhes enfadonhos, é importante que se diga que o episódio de 26 de Outubro de 1997, onde se registaram 276,4 mm em menos de 6 horas, tem origem num fenómeno natural, bastante comum na circulação geral da atmosfera à nossa Latitude. São as chamadas Gotas de Ar Frio, depressões convectivas, formadas por colunas ciclónicas, normalmente em circulação de bloqueio, resultantes da advecção de ar frio polar ou ártico.

 

Estas Gotas Frias, mais frequentes nos meses correspondentes às estações de transição (Outono e Primavera) e com grande influência na repartição temporal da precipitação no Sw de Portugal, são responsáveis por chuvadas altamente concentradas no espaço e no tempo, situação que se comprovou no fatídico dia de Feira. Conheceram-se assim os efeitos catastróficos de um fenómeno bastante localizado, visto que, entre a meia noite e as 6h da manhã, em Faro não choveu, registando-se apenas 9 mm na estação meteorológica de Sagres (Rebelo, 2003). 

 

Atendendo ao aumento da temperatura à superfície dos Oceanos (o que significa maior quantidade de vapor de água nas massas de ar), previsto pelos modelos de alterações climáticas apresentados pela comunidade científica internacional, considerando ainda a típica actividade de movimentos ascendentes do ar nas Gotas Frias, será de esperar que episódios como o verificado em Outubro de 1997, possam vir a ocorrer com muito maior frequência e, sobretudo, intensidade no território correspondente à Serra de Monchique. O mesmo será dizer que se reduzirá, substancialmente, o período de retorno associado ao evento de 1997, na ordem dos 1000 anos, para valores de maior recorrência temporal. Isto é, maior probabilidade de ocorrência.

 

Concomitantemente, conhecendo-se as características geomorfológicas da Serra de Monchique, é importante não esquecer o efeito determinante do relevo na intensificação das células convectivas que originam estes fenómenos. A intervenção das vertentes com ascendência a barlavento potenciam, determinantemente, a intensidade das precipitações registadas.

 

Por último, importa ainda dizer que as precipitações devidas a Gotas Frias, são mais abundantes em anos secos e encontram-se intimamente ligadas às modificações verificadas na circulação geral da atmosfera. Num quadro em que os extremos hidrológicos (secas e cheias) fazem parte do cardápio de consequências expectáveis, a intensidade de fenómenos do género não só será maior, como serão maiores os seus impactos em termos de potencial destruidor junto de solos desprotegidos pelos efeitos da seca e de incêndios florestais, também eles mais frequentes e devastadores.

 

É, portanto, extremamente recomendável que comecemos a seguir os conselhos deixados pelo Luís, aliando-lhes medidas mitigadoras ao nível da incorporação de Riscos Naturais nos Intrumentos de Gestão Territorial. O ambiente, o clima e as nossas acções na promoção da sustentabilidade não conhecem fronteiras nem mercados, são imperativos éticos.

 

[Porque desde Quioto, e como diz a música, the «arid torpor of inaction will be our demise».]

 

Imagem de satélite da situação depressionária observada no dia 26 de Outubro de 1997, às 02h:30m. A seta a vermelho representa a passagem do evento em Monchique. Fonte: Meteo.pt



Ana Pinto @ 16:57

Dom, 13/12/09

 

Foi com surpresa que me deparei com o vosso blog. A construção fundamentada das vossas postas torna-as credíveis, e a linguagem (ainda que, em boa parte, objectiva) é uma lufada de ar fresco na blogosfera subordinada ao concelho de Monchique, porquanto não se tratam de artigos meramente opinativos ou narrativos. É bom constatar que existe espaço para a diversidade de pontos de vista sobre a riqueza identitária de Monchique!

Por outro lado, considero bastante animador haver gente jovem que nutre o devido apreço a esta terra, e que canaliza energias e os seus conhecimentos técnicos para a sensibilização para a fragilidade do ecossistema da Serra, que importa preservar e legar.

Nesse sentido, sinto-me, de certo modo, identificada convosco, na medida em que tento fazer o mesmo, mas em relação ao património cultural de Monchique, em particular o histórico e artístico. Ambos (património natural e cultural) se inter-relacionam e detêm a mesma importância para explicar a riqueza e o cunho único da Identidade de Monchique, que deve ser conhecida, estudada, preservada e divulgada, de acordo com o seu potencial intrínseco.

Força para este vosso empreendimento!


Eduardo Duarte @ 22:05

Dom, 13/12/09

 

Boa noite Ana.


 


Primeiramente, os Escalavardos agradecem a sua visita, sentem-se lisonjeados pelas palavras que aqui deixou e honram-se pelos incentivos endereçados ao nosso blogue.


 


Conforme foi dito por cada um de nós nas postas de apresentação, os Escalavardos não pretendem concorrer ou substituir-se aos (valiosos) blogues já existentes e que igualmente versam sobre o concelho de Monchique. O nosso propósito é, de uma forma objectiva e independente, louvar esta terra, retribuindo o sentimento de pertença à comunidade onde se entouçam as nossas raízes, tentando, sempre que possível, basear esta adulação em factos científicos concretos, em conhecimentos técnicos e nas experiências pessoais e profissionais de cada um de nós.


 


Concordo em absoluto com as suas palavras e, sem querer entrar por campos excessivamente deterministas, considero que os modos de vida característicos da nossa terra, que se fundam na memória colectiva transmitida ao longo de gerações e se materializam numa matriz identitária particularmente fértil, a todos os níveis e contextos, resultam da fusão entre património cultural e natural desta Serra.


 


Citando Santo Agostinho, "Ninguém ama aquilo que não conhece", pelo que julgo ser de todo importante avivar o lume da afeição pela nossa terra com as achas do conhecimento.


 


Uma vez que se sente identificada com este projecto e os seus intentos, unidos que estamos pelos mesmos laços de afecto a esta terra, desafio-a  a integrar a equipa dos Escalavardos, contribuindo com o seu saber, as suas vivências e outras particularidades que considere relevantes, aumentando a abrangência deste projecto na divulgação e estudo da Serra de Monchique.


 


 Saudinha da boa.


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